FEIRA DE SÃO JOAQUIM POR JORGE AMADO

 

Os saveiros vindos das pequenas cidades do Recôncavo descansam no porto em frente à feira, onde barracas se levantam para a venda de todos os produtos baianos.

no cais sem cais da Feira de Água dos Meninos, onde os saveiros depositam bilhas, moringas, pratos desenhados e cavalgadas de barro, bois mansos e cavalos azuis, tudo construído pelas mãos ingênuas e sábias de anônimos artesãos.

 

Tem quem só vá à feira passear. Negros, mulatas, marítimos, gente grã-fina que vem comprar, acotovelam-se ante as barracas que vendem a melhor comida baiana em pratos de flandres. Num canto alinham-se as panelas de barro, os moringues, os potes, as esculturas populares (burrinhos, imagens de São Cosme e São Damião, brinquedos para meninos), as jarras, todos os trabalhos que os camponeses fabricam com o barro da terra dadivosa do Recôncavo. Sapatos vindos de Feira de Sant’Ana, alpercatas, chinelos, sapatões vermelhos que os negros adoram.

 

É uma festa. Os coloridos vestidos das ‘‘baianas”, os tabuleiros de frutas, doces e acarajés, os montes de abacaxis e melancias maduras, as gargalhadas do povo negro, as piadas trocadas entre marítimos e mulatas, o sarapatel fervendo nas panelas, os cegos cantores que pedem esmola, as barracas de bugigangas que atraem os capoeiras e cozinheiras, as barracas que vendem material para os ritos das macumbas, pedras e ervas, búzios e fetiches, os montes de frutas.

 

Próximo à feira de Água dos Meninos existia até há bem pouco tempo outra feira famosa. Era a feira do 7, em frente ao Sétimo Armazém das Docas, onde é hoje a Base Baker dos americanos. Célebre pelos barulhos, desordens colossais. Era a predileta dos Capitães da Areia. Os meninos sem lar dominavam a feira do Sete, praticando ali todas as estrepolias imagináveis.

 

  Fonte: Livro Bahia de Todos os Santos, de autoria do escritor Jorge Amado.